Pausa para momento sério
Não é muito comum aqui e eu normalmente tento evitar, porque já tem gente demais escrevendo coisas sérias na Internet. Não que não tenha muita gente escrevendo humor sem graça também, mas detalhe.Há um tempo houve uma discussão sobre Kafka, e nisso chegou-se a falar sobre vida e obra, se era importante conhecer a primeira para interpretar a segunda, coisa do tipo. Tinha deixado o assunto pra lá até que li este post no LLL, onde vi que Milan Kundera já tinha descrito perfeitamente minha opinião no livro A Arte do Romance:
O romancista é aquele que, segundo Flaubert, quer desaparecer atrás de sua obra (...). Nessa situação, da qual ninguém pode escapar inteiramente, a observação de Flaubert me parece quase uma advertência: prestando-se ao papel de homem público, o romancista põe em perigo sua obra que corre o risco de ser considerada como um simples apêndice de seus gestos, de suas declarações, de seus pontos de vista.
O romancista desfaz a casa de sua vida para, com as pedras, construir a casa do seu romance. Os biógrafos de um romancista desfazem portanto o que o romancista fez, refazem o que ele desfez. O trabalho deles não pode esclarecer nem o valor nem o sentido de um romance, apenas identificar alguns tijolos. No momento em que Kafka atrai mais atenção do que Joseph K., o processo de morte póstuma de Kafka se iniciou.
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