segunda-feira, junho 20, 2005

As portas da percepção

Matemática é como uma espécie de meditação. Uma forma extrema de escapismo, onde se abandonam as relações com a nossa percepção sensorial e vive-se em um mundo completamente abstrato e construído, onde nada é muito familiar. Os bons matemáticos, quem sabe, são aqueles que se encantam com a paisagem desse lugar, talvez preferindo-o ao mundo físico por onde vagam seus corpos.

Norbert Wiener, um matemático importante do século XX, fundador da cibernética, trabalhava no MIT em uma época que sua família estava de mudança. No dia da mudança, antes que ele saísse para o trabalho, a mulher se esforçou para que ele não se esquecesse do fato: deu-lhe um pedaço de papel com o novo endereço, achando que quando chegasse a noite ele não se lembraria mais de onde era a nova casa. Ao final do dia, Wiener sai andando do trabalho e vai, distraidamente, para a casa antiga, provavelmente imerso em pensamentos matemáticos. Quando estava chegando perto, se deu conta que deveria ir para a casa nova, mas onde era ? Não lembrava do endereço. Pensou no pedaço de papel e procurou nos seus bolsos, mas achou vários papéis cheios de símbolos matemáticos e nenhum com o novo endereço. Nisso, ele vê uma garotinha sentada na frente da casa antiga.

- Menina - diz Wiener - você sabe para onde o pessoal dessa casa se mudou ?

A menina olha para ele e ri, dizendo:

- Claro que sei, papai. Mamãe sabia que você iria se esquecer do endereço e perder o papel, então me mandou para cá para espera-lo.


Existem várias histórias similares sobre Wiener, algumas são contadas na entrada da Wikipedia com seu nome; essa, em particular, eu vi no livro "O Gene da Matemática" de Keith Devlin.